7 de ago. de 2010

Irreparável Instinto

A natureza nos fez assim, por que lutar contra aquilo que somos e sentimos? Por que lutar contra os instintos que pulsam a todo o momento? Existem momentos em que essa luta já começa com uma vencedora: a sexualidade. Contra ela ninguém vence, e caso vença, sai completamente dilacerado. Portanto, é melhor deixá-la vencer, pois o prazer é certo.


O casal se segurava dia após dia até o casamento. Já faziam cinco anos de namoro. Passaram a adolescência toda em provas de fogo. Tudo pela religião. Tudo pela doutrina dos pais. Tudo por uma causa que lhes asseguravam algo, porém lhes custava caro. Sufocar os instintos era desesperador. Banho gelado depois de beijos ardentes era o que os segurava, mas isso era ínfimo perante as quenturas da alma. Enfrentar a si próprios martirizava o jovem casal.

Em plena puberdade eles se conheceram e se gostaram. Começou então o namoro com o propósito de casamento, até aí tudo bem. Entretanto, aos quinzes anos quando os pêlos pubianos dela cresciam ainda ralos no segundo mês depois da primeira menstruação, e quando nele cresciam espinhas após algumas masturbações seguidas de arrependimento; eles não contavam com os instintos sexuais proveniente de todo ser humano. E como lidar com a explosão que lhes acontecia sempre? A mão na coxa, o beijo no pescoço, o falo latejando, a yoni molhada, a cabeça girando, o corpo ardendo, cócegas... pára, não podemos. Por que não? Você sabe que só depois de casarmos. É verdade, a gente tem que se segurar...te vejo amanhã? Sim!... e o beijo de despedida põe o ponto final. Ponto final?! Reticências seria a pontuação mais correta.

As genitálias continuavam em atividade vulcânica, em ebulição. Queriam se encontrar, mas tinha data certa. Quem inventou isso de data para satisfazer desejos?

Escutar os amigos contarem suas experiências amorosas e as amigas perguntarem se já rolou, não era fácil para os dois. Vários incentivos e chacotas os deixavam mais atordoados e desejosos. A luta contra os fantasmas do desejo se tornava fraca a ponto deles quase caírem em tentação por inúmeras vezes. A primeira foi aos dezesseis na casa dela. Ele foi para um almoço normal de sábado. Chegou cedo, conversou com todos, almoçaram, assistiram televisão, riram um pouco, até que a mãe dela saiu com o irmão mais novo e o pai foi dormir. Os dois sozinhos na sala começaram a se beijar despretensiosamente. Foram se deitando levemente no sofá, ela de saia deixou uma das pernas cair para fora do sofá logo ficando com as pernas entreabertas e ele se encaixando no vão deixado ao acaso. Quando a perna caiu, a saia subiu chegando até metade da coxa. O menino estava pronto para hora, era só abrir o zíper da bermuda. Ela queria, ele queria, os dois queriam, a consciência não deixou. Recompuseram-se amedrontados com coração aos pulos. Um copo d’água e um “depois te vejo”, mas o desejo pulsava e martelava os sentidos.

O casal fugia dos ambientes escuros, dos locais ermos e das ocasiões propícias à queda. Viviam como fugitivos deles mesmos. E quanto mais fugiam, mais lhes aparecia sorrindo o desejo e a perdição. A doutrina era rígida, o inconsciente estava carregado de nãos-carrascos. No jogo da vida eles eram marionetes do “certo” e do “errado”. O que fazer? Qual a saída? Casamento, pois casados não eram pecadores. Aos dezoito resolveram de fato casar e por fim ao martírio. Porém, faltava-lhes dinheiro, casa, paciência e esperança. Ele correu atrás emprego e ela de oportunidades. Dezenove e nada ainda. Vinte e a esperança volta, mas o desejo nunca fora embora, batia-lhes a porta toda hora e às vezes invadia sem permissão. Certo dia o pai dela de repente perguntou ao futuro genro se este havia desfrutado sua doce filha. Suando respondeu que não, mas pensando respondeu que era o que mais queria. Recebeu por isso um elogio, o elogio não mudava nada, excitação tomara conta de todos os seus sentidos.

Mais uma vez a tentação chegava sutilmente. Estavam passeando pela orla da praia e apreciavam uma bela paisagem. Era quase fim de tarde e o Sol se pondo atrás deles era refletido no mar calmo a frente. Mais a frente havia um píer panorâmico onde vários casais passam algumas horas aos beijos. Eles foram um desses casais, a tarde caindo, a brisa leve, o barulho do mar ao fundo, uns beijos, uns apertos, a mão correndo, o desejo aumentando, os dois sozinhos de novo, ela de saia de novo, suas coxas lisas e quentes, seus seios durinhos e eriçados, as costas dele, o falo dele rijo, seu beijo no pescoço dela, a mordida dela no seu ombro, a mão no seio, a mão nas nádegas, a mão no membro, o zíper se abrindo, a saia subindo, o falo quase para fora, um outro casal vindo, a consciência de novo. Tudo em nada outra vez.

Os dois se encontravam num dilema psicológico, entregar-se ao prazer antes do tempo e sofrer as austeridades do inconsciente dizendo e acusando-os ou esperar até a tal hora e sofrer as austeridades do desejo natural e lascivo. Por qual caminho andar? Qual sofrimento era mais doloroso? E qual era menos? Não importava o sofrimento, seus instintos gritavam sem aviso de trégua. Era impossível ficarem juntos sem pensar em sexo, sem ter vontade de se entregarem um ao outro. Que mal tem isso? – ele se perguntava. Por que tem de ser assim? – ela redargüia.

O casamento estava marcado. A data, a festa, o local da festa, o lugar da viagem da noite de núpcias, tudo estava arranjado. Na noite anterior ao casamento ela havia ido ao shopping comprar uma lingerie especial pra lua-de-mel que era tão aguardada. Feliz da vida ela caiu na besteira de mostrá-lo e fazer provocações. Ele, em posição de estátua, ficou imaginado-a naquele traje voluptuoso e tentador. Seu falo enrijeceu momentaneamente, ela percebendo o volume feito em sua calça, sentiu a excitação tomando conta de seu lindo corpo e quis de súbito pôr a boca e se deliciar com aquilo tudo. Era segredo, mas ela não conseguiu suportar a pressão e comprou um filme pornográfico que assistia todos os dias escondida, queria aprender como satisfazer um homem. Vendo o filme se masturbava silenciosamente e desavergonhadamente, pois ali se sentia livre de tudo. Ele correu para tentar parar de pensar em sexo, porém a tentativa foi em vão. Ele havia corrido para o banheiro e quando se deu conta de que estava protegido pelas paredes, pôs-se a masturbar freneticamente até seu jato ser disparado na parede chegando a fazer um barulho de algo sendo lançado fortemente e se chocando repentinamente. De tanto desejo que sentiam, de tanta excitação e de tanto sufocar os instintos, a única solução era trancarem-se e descarregar para não morrerem de prazer.

Deu-se então o casamento e as festividades. Sem demoras foram para tão sonhada e aclamada noite de núpcias. Tudo o que os prendia, foi derrubado por uma relação sexual de dar inveja ao Marquês. Tudo o que a religião prezava foi esquecido pelos dois, toda doutrina dos seus pais e a violência do inconsciente de nada valeram, pois os dois se entregaram carnalmente ao pecado e a devassidão. No quarto onde se alojaram ficou as marcas da paixão enclausurada durante anos. Hoje o casal faz de tudo na cama e continua freqüentando sua doutrina.

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