11 de jul. de 2010

O Celular

Havia ido ao trabalho como fazia todas as manhãs. Entrou no banco seu local de trabalho, arrumou todas as suas coisas e se preparava para o atendimento ao público. E assim foi o dia dela. Era chegada a hora do almoço e como todo o dia era de praxe, saiu para almoçar no mesmo restaurante de sempre. O dia parecia como qualquer outro dia, a famosa rotina. Sentou-se com seu prato trivial, almoçou, perdeu alguns minutos, pagou a conta e saiu de volta ao trabalho. Tudo corria bem até que percebeu que estava sendo seguida por dois rapazes nada amigáveis. “Ai meu Deus! O que eu faço?” – pensou assustada. O celular estava seguro em sua mão e a bolsa agarrada ao corpo. “Eles vão roubar meu celular!” – pensou mais assustada ainda. Uma luz surgiu em sua cabeça e uma idéia louca, mas que a salvaria do roubo. Colocar o celular por dentro de calça, ou seja, escondê-lo na calcinha. Mas como se daria isso? Tentou despistá-los quando entrou em uma loja de cosméticos, com uma rapidez de raposa enfiou o celular no local pensado. Aliviou-se um pouco, porém não por completo, pois os dois meliantes também pararam em frente à loja.


Cinco minutos até os rapazes irem embora. Cinco minutos para ela se encantar com os esmaltes, cremes hidratantes, etc., etc., etc.. “Bendita hora em que aqueles mal-encarados me perseguiram.” Ela de tanto passar pelo mesmo lugar, nunca havia reparado na lojinha, ou melhor, no baú do tesouro. Ficou tão vidrada que se esqueceu do horário. Pagou o que havia comprado – lógico que ela não iria embora daquela loja sem ter comprado nada – e voltou ao trabalho. Aliviada por não ser roubada e feliz pelo empreendimento, esqueceu-se do celular no tal lugar.

A outra metade do dia começara, e tudo como sempre. Arrumar as coisas e ir até o guichê, atender os clientes até o horário ou enquanto houver gente no recinto. E o celular ainda permanecia lá. Mas como alguém não sentiria um incômodo que um celular pode causar justo naquele lugar? Simples, é a rotina. Como essa tal rotina mata qualquer ser humano. Porém, aquele era o dia do quebra-rotina. Primeiro a loja de cosméticos antes obscura, agora às claras, depois algo nunca imaginado. O telefone toca. É alguém, mas quem? Não podia saber. Não havia possibilidades. O celular estava no famoso vibra-call e seu aparelho moderno era daqueles que vibrava mais que torcida em final de campeonato. Um susto, um constrangimento, um arrepio, um gemido. Era excitação.

Como aquilo poderia acontecer? Não era para acontecer, nunca haveria de acontecer. Era o quebra-rotina. Já não era celular, era um vibrador que de tanto tremer desceu para o clitóris e ia vibrando cada vez mais. Ela estava louca de desejo, agarrou-se à mesa, contorcia-se e gemia. A pessoa que ligou, insistiu três vezes seguidas. Essa foi a sua derrota. Seu corpo estremeceu, o gemido aumentou, ela entrou em êxtase profundo e teve um orgasmo ali mesmo sentada na cadeira do guichê. O banco estava lotado e ninguém conseguia entender nada. Nesta hora vários paparazzi apareceram com sua câmera portátil ligada e sem crédito nenhum para dar um telefonema se quer, filmaram tudo e riam de perder o fôlego. Ela se recompôs e com muita vergonha saiu correndo desesperada para o banheiro. “Como pude ser tão tola a ponto de esquecer-me do celular.” – ela pensou martirizando-se, “o meu emprego, minha reputação?”, não havia resposta aparente. Foi dispensada pelo seu chefe, pois não havia mais condições de trabalhar. Era o quebra-rotina. Este dia ficaria guardado na memória.

Chegou a sua casa, tomou um banho, chorou, bateu-se, navegou na internet e... “Orgasmo no Banco” era o título do vídeo com mais de trezentos acessos em menos de uma hora. Sua vida não seria mais a mesma, mas pelo menos não haveria mais rotina.